domingo, outubro 17, 2004

ESTRELAS CADENTES – 2ª PARTE

A chegada de Martin deixou os outros internos em polvorosa. Era a primeira vez que um legítimo astro do rock se hospedava na casa. Todos queriam conhece-lo e, quem sabe, ouvi-lo tocar ao vivo. Mas pouco se viu de Martin nestes dias. Ele passava a maior parte do seu tempo dentro do quarto – certamente, com as leituras recomendadas pelo reitor. Os livros que Dra-Lukiany insistia para que os alunos lessem fazia parte, de uma forma ou de outra, do motivo pelo qual se encontravam lá.
Uma das raras aparições de Martin se deu na biblioteca, quando ele foi renovar o empréstimo de “Anges & une démo”, um livro um tanto grande, - quase duas mil páginas – que se propunha ser o livro definitivo para a compreensão desses irmãos alados. O livro foi escrito por Selena Dien, uma antiga hóspede da Casa, após sua estada que acabou por obrigar a reitoria a “remodelar” toda a ala principal da Torre Oeste. O livro tornou-se Best-Seller e, agora, é leitura obrigatória para todos que entram pelos portões da Casa dos Deuses.
Martin, depois de renovar o empréstimo do livro, e ouvir os resmungos de Sophia Swaises, a bibliotecária de quase dois metros de altura, resolveu caminhar pela biblioteca e observar sua arquitetura peculiar e seu vasto acervo de obras raras. Obras que nem sequer são mencionadas nos catálogos internacionais de literatura.
Enquanto olhava distraído um exemplar de “Guerra e paz” – uma primeira edição, raríssima, com direito a autografo do autor – Martin teve a estranha sensação de estar sendo observado. Deu uma olhada ao redor e viu a bibliotecária resmungando alguma coisa com um aluno sobre um livro, um casal que lia um livro do LoveCraft e mais uns três ou quatro alunos, absortos em sua leitura. “Deve ser minha imaginação”, pensou enquanto continuava a folhear o livro.
- она говорить Русский?
Uma voz vindo Deus-sabe-de-onde perguntou. Martin olhou para os lados, assustado, e deixou o pesado livro cair. Mas a cena que havia acabado de ver não se modificou. Novamente a voz. Agora pode distinguir que era de uma mulher.
- она говорить Русский?
- Quem é você? Onde você está?
- Shiii! – a bibliotecária estava atenta a tudo!
- Onde você está? – agora tomou o cuidado de falar baixo
Uma mulher de cabelos negros até a cintura e belos olhos castanhos saiu de traz das prateleiras. Sua beleza era incrível. Martin ficou alguns segundos admirando a moça.
- Oi. – Disse fitando Martin.
- Oi. Quem é você?
- Eu sou Margrith.
- Prazer, eu sou...
- Martin D’Luca. Eu sei.
- Parece que isso já não é novidade por aqui...
- Todos sabem quem é você.
- E você deve ser uma fã.
- Não. Na verdade nunca ouvi nada que você tenha feito.
- Sério? Isso é fantástico!
- Hum...
- O que foi aquilo que você me disse antes da gente se ver?
- она говорить Русский?
- Isso!
- Nada, só perguntei se você falava russo, mas como você não entendeu, vejo que não fala.
- ...
- É que vi você lendo “Guerra e paz”, daí...
- Não estava lendo. Só folheando...
- Ok. Vamos conversar em outro lugar? Aqui tem muita gente curiosa.
Martin olhou ao redor e viu que a bibliotecária os observava com muito interesse.
- Ok, mas, para onde vamos?
- Qualquer lugar. Desde que estejamos juntos.
Margrith deu um beijo apaixonado em Martin e lhe puxou pela mão. Saíram correndo da biblioteca sob o olhar atendo de Sophia Swaises.
Nos dias seguintes um grande amor cresceu entre Margrith e Martin. Os dois não se desgrudavam um só segundo. As outras meninas da Casa morriam de inveja da bela de cabelos negros que conseguiu fisgar o melhor partido que já se hospedou na casa. O amor deles crescia com o passar dos dias. Martin até se esqueceu de suas leituras recomendadas e só pensava na amada do momento em que acordava, até o momento em que ia dormir – geralmente, acompanhado. Nunca antes havia sentido um amor como aquele. Queria que sua união fosse completa, plena com seu amor.
A noção de plenitude que se passava na cabeça de Martin envolvia algo mais que seu amor por Margrith. Envolvia outra grande paixão. Paixão esta que, desde que chegara a Casa dos Deuses, fora obrigado a abandonar por pedido do Reitor. Seu amor antigo, amor que achava ser maior que qualquer outra coisa. Lana. Sua guitarra.
Martin observou o velho amor sobre a cama. Parecia pedindo que a tocassem como uma mulher voluptuosa que sabe como pedir carinho só com o olhar. Martin sentou-se ao seu lado na cama e a pôs no colo. Pegou uma flanela do case preto e começou a limpa-la. “Que mal pode ter, tocar minha guitarra?”, pensou. “Aqui estou seguro. Nada vai me acontecer...” Num impulso, ajeitou-a sobre sua perna e posicionou-se para tocar um acorde. Fez sem pensar, só levado pelos instintos de músico que não consegue ficar sem seu maior bem por muito tempo. Posicionou os dedos para tirar um Dó-maior.
- Senhor D’Luca?
O reitor Magnus estava do outro lado da porta, batendo.
Martin pôs a guitarra de volta em seu lugar e foi atende-lo.
[continua]

6 Comments:

Anonymous Anônimo said...

grrrrr....
'Cê quer me matar de curiosidade, é??!! hehehehe...

Mto bom!! Fazia tempo q não lia algo assim, q me envolvesse por completo! Me sinto parte integrante dessa Casa, dessa história... Mesmo sem ser convidada! =P

Bjus, moço! Saudades suas... =)

Kathia Vívian

2:54 PM  
Anonymous Anônimo said...

Olá querido companheiro (argh, que coisa mais petista!).
Brigadinha pelos comentários/elogios no meu flog e blog. Também adorei teu blog... essa de lugar pra purgar seus pecados é ótima. Depois volto aqui com calma e leio tudo direitin...agora to meio atrapalhada com algumas coisinhas do CA aqui.
Bjaum,
Luiza

9:42 AM  
Anonymous Anônimo said...

Boa estória... Espero que o final seja a altura doas duas outras partes...

2:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

Acho um absurdo tão grande esse "Anonymous" antes do meu nome... Acho um absurdo tão grande você fazer um comentário daquele porte no meu blog... Acho um absurdo tão grande.... Douglas, tu existes? - Eu quase.

*gostei da casa, de tudo. faltou um chá de fruta vermelha. e tenho dito.

Li

3:54 PM  
Anonymous Anônimo said...

Hello Logan! Tá envolvente a parada. Parece q vc tah indo no caminho certo! Meus parabéns!

Daniel

9:31 AM  
Anonymous Anônimo said...

A riqueza dos detalhes impressiona e a história envolve de uma forma em que o tempo escorre sem percebermos...características de todo grande mestre da escrita.

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Kae Loaf Taren - qualquerpecado.blogspot.com

9:01 PM  

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